Outras memórias
Surgidas durante a Idade Média, as confrarias constituíam associações de carácter voluntário, formadas por indivíduos que se uniam com o propósito de promover a entreajuda, tanto no domínio espiritual como no material. Estavam sempre associadas a um templo religioso e a celebrações também religiosas, nas quais tinham de participar.
No entanto, as confrarias evoluíram para instituições mais estruturadas através da adoção de documentos que estabeleciam regras e normas para o seu funcionamento – os estatutos – também designados por compromissos, termo que veio a substituir a designação de confraria.
O Compromisso Marítimo de Portimão remonta à segunda metade do século XV, período em que era ainda denominado Confraria do Corpo Santo de Portimão, estando vinculado à igreja do Corpo Santo.
Embora já descaracterizado e em ruínas, o edifício da igreja do Compromisso Marítimo de Portimão ainda pode ser vislumbrado na Travessa da Rua Nova.
Esta igreja foi, ao longo do tempo, alvo de diversas vicissitudes, sendo a mais severa o terramoto de 1755, que lhe causou danos consideráveis. Contudo, há referências que indicam que, em 1919, o edifício já se encontrava restaurado e que o culto religioso deixara de ali ser celebrado desde os primórdios da Primeira República, na sequência das orientações políticas e das reformas então implementadas na Igreja. Nessa altura, o edifício acolhia o escritório da associação e uma escola.
Em 28 de fevereiro de 1969, ocorreu em Portugal um “violentíssimo e prolongado abalo sísmico […] pois atingiu o grau 7 […]. Muitas casas da cidade [de Portimão] ficaram seriamente danificadas […]”. Na sequência desta catástrofe, foi elaborado um levantamento designado “Prospeção, preservação e recuperação de elementos urbanísticos e arquitetónicos notáveis. Em áreas urbanas e marginais viárias, na região do Algarve”, cuja primeira fase era “preventiva e de execução prioritária”. Nesse estudo, refere-se que a igreja do Corpo Santo do Compromisso Marítimo de Portimão era “uma nobre ruína que, dada a pobreza de vestígios históricos e edifícios de interesse que Portimão apresenta, convém recuperar”, sendo necessárias “obras urgentes de restauro e de reintegração que reconduzam este templo à sua função de culto”.
A fotografia em destaque, integrada no referido estudo, constitui uma memória do edifício, onde ainda são visíveis vestígios da sua arquitetura religiosa.